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Venda do Cirque du Soleil

Há três anos, enquanto assistiam à turnê brasileira do show Varekai, recheado de contorcionistas, palhaços e malabaristas, poucos espectadores poderiam imaginar que as finanças do Cirque du Soleil estavam na corda bamba. Os ingressos, que chegavam a custar R$ 400, se esgotavam em minutos. Naquele ano, o faturamento global da empresa canadense, que virou referência em espetáculos circenses, alcançou US$ 1 bilhão, mas o balanço – que nunca chegou a ser revelado em detalhes – fechou no vermelho. No principal mercado mundial, os Estados Unidos, seus shows estavam perdendo público, especialmente depois da morte de um acrobata, em 2012.

Com isso, o Cirque deu início a uma reestruturação que economizou US$ 100 milhões, mas custou o emprego de 400 funcionários e fez as receitas caírem para US$ 850 milhões. Agora, ao que tudo indica, o ajuste deu resultado. Ao menos, atraiu novos investidores. Na segunda-feira 20, o fundo americano TPG e o conglomerado industrial chinês Fosun, que atua desde o setor metalúrgico até os de saúde, seguros e entretenimento, se tornaram sócios majoritários do Cirque du Soleil. A imprensa financeira internacional estimou que a transação girou em torno de US$ 1,2 bilhão, menor do que o valor mínimo estipulado pelo fundador Guy Laliberté, que era de US$ 1,5 bilhão. Os percentuais de cada parte não foram revelados, mas é sabido que Laliberté, então dono de 90% da empresa, tenha ficado com apenas 10%.

“Depois de 30 anos de existência, temos parceiros que podem contribuir para a nossa evolução”, disse, em conferência, o fundador. Ele continuará à frente da direção artística do circo. A missão dos novos controladores não é das mais simples. Apesar de a empresa ter voltado ao lucro depois do período de austeridade, ainda não conseguiu conquistar o exigente público asiático. Em agosto de 2013, por exemplo, durante um show em homenagem ao cantor Michael Jackson realizado em Pequim, na China, o Cirque du Soleil exibiu a famosa imagem “O Rebelde Desconhecido”, em que um homem enfrenta tanques chineses na Praça da Paz Celestial. O grande problema é que fotos e vídeos relacionados ao protesto estão banidos no país asiático desde 1989, ano do fatídico acontecimento.

“O Cirque aprendeu que é preciso ter cuidado para entrar em mercados novos, ainda mais em alguns tão sensíveis como os da Ásia”, diz Andréa Nakane, professora de gestão eventos da Universidade Anhembi Morumbi e especialista na área. Com a ajuda da Fosun, um portento com US$ 10 bilhões de faturamento no ano passado, o circo espera romper de vez essa barreira. “Nosso objetivo é tornar o Cirque du Soleil um dos líderes no setor de entretenimento, que tem tido cada vez mais espaço na China”, afirmou, em nota, Guo Guanchang, presidente do conselho da Fosun. O ponto principal da estratégia será, curiosamente, depender menos do circo. A ideia dos novos investidores e do próprio fundador Guy Laliberté é faturar, principalmente, com o licenciamento da marca Cirque du Soleil.

O fundo TPG será o responsável por potencializar a força da empresa através de parcerias com grandes grupos de mídia, além de expandir as licenças do grupo para a produção de filmes e a confecção de produtos inspirados nos espetáculos. A diminuição das apresentações, aliás, já é algo que vem acontecendo nos últimos anos. No fim de 2011, a empresa possuía 22 espetáculos em cartaz simultaneamente por todo o mundo. Atualmente, este número não passa de 15, a maioria deles em Las Vegas. “Eles se tornaram a Disney dos circos e uma referência de gestão no meio do entretenimento”, afirma Andréa, da Anhembi Morumbi. A expectativa, agora, é que o Cirque du Soleil volte a encantar.